O debate foi sereno, até demais. Houve poucos confrontos em termos de um olhar diferente sobre o Brasil e o mundo. A Marina que se caracteriza por esta diferença não pode ter espaço ficando refém das perguntas colocadas.
Eu sou contra marqueteiros e demasiada preparação prévia dos candidatos. Eles tem que ir lá com a acumulação que fizeram durante toda a vida e falar com o coração. Quando vão municiados pelos assessores e marqueteiros que sempre possuem uma visão maliciosa da política, acabam engessados e nervosos Têm que falar como combinado. Ao contrário, eles tem que usar a razão cordial, emocional e espiritual. É essa que fala para o profundo das pessoas. Estas são tocadas não por dados mas por emoções, por instigações que levantam a esperança e fazem sonhar com um Brasil diferente e melhor.
Larguem a Marina para ser ela mesma, aquilo que ela sempre foi e não aquela que vai sendo construida pelos técnicos da enganação, pois os marqueteiros são isso mesmo. Quem ganha é o povo e a democracia.
Indo aos candidatos. Marina, e isso é seu estilo, procurou sempre o caminho do meio, aquele viável, que congrega mais pessoas ao redor de um ideario que engloba o maior número de gente possível e que pensa mais no todo (Brasil) do que na parte (partido). O povo ocupa o foco e não os grupos dominantes e os epulões do dinheiro. Não esqueçamos que são cerca de vinte mil famílias que controlam mais de 45% da riqueza nacional e que emprestam seu dinheiro para o governo fechar as suas contas, e emprestm a juros altíssimos.Por ano levam mais de cem bilhões de juros.
No outro extremo estava o Plínio de Arruda Sampaio, homem admirável e cheio de méritos Mas a esta altura da vida com cerca de 80 anos eu esperaria mais sabedoria e menos radicalismo juvenil. Todos queremos tirar a desigualdade. Mas a questão é como fazê-lo. É melhor ir logo dizendo: o caminho tradicional é mediante uma revolução em que se derrubam dominações que sustentam as desigualdade. Mas o tempo das revoluções clássicas passou. Agora tem que ser por outra via, vinda de baixo, dos movimentos sociais que se articulam e apresentam alterntivas de poder, não só politico, mas também econômico. A democracia geralmente morre na porta da fábria. La dentro reina a ditadura dos patrões. Se alguem quiser ser de um radicalismo extremo como nossos companheiros do PSOL então digam isso abertamente, pois a demcoracia o perrmite.
O Serra foi o mais consistente em termos de conteúdos e de propostas. Ve-se que é um homem experimentado politicamente. E passou seriedade e firmeza. Não gosto da filosofia oculta do PSDB mas ele foi o convincente. Para minha supresa passou leve emoção quando falou de seu pai, italiano pobre que se lascava para fazer os filhos estudar. Mas precisamos prestar atenção, pois o PSDB não trocou ainda de cartilha, a neoliberal que quase levou o mundo ao abismo.
A Dilma fazia pena. Lutava com a linguagem. Nunca respondeu de forma convincente às questões concretas suscitadas por Serra. Fugia para o abstranto, embaralhando-se nos conceitos e nas palavras. Ela tem que aprender mais. Mas bem feito. O Homem lá de cima a quis, sem passar pela larga discussão do paratido, como era sempre de praxe no PT. Ela afirmou basicamente mais do mesmo, mas nada de surpreendente e inovador.Mas já é muito se garantir sustentabilidade às políticas sociais e conseguir fazer reformas que Lula não fez como a política, a agrária e a tributária. Isso seria o maior legado que o PT e os seguidores de Lula deixariam para a história republicana.
Uma nota de desamparo, pois revela que tipo de cidadania possuimos. O debate teve inicialmente 6 pontos de audiência, depois caiu para 3. Enquanto isso, a Globo transmitia futebol com 60 pontos de audiência. Por ai vemos onde está o coração das grandes maiorias. O "deus" que move multidões não é efetivamente a política. Por isso é dificil alcançarmos níveis maduros de democracia.
Leonardo Boff, Petrópolis
(sem partido)